A luta contra as alterações climáticas e pela conservação do meio ambiente colocou o sector da exploração da pedra debaixo de holofotes.
As pedreiras têm uma série de impactos associados, desde a poluição atmosférica causada pelo processo de extração da matéria, como de transporte da mesma, à possibilidade, em alguns cenários, de poluição de cursos de água, passando pelo inevitável impacto paisagístico, marcado pelas crateras visíveis à distância no topo das serras, ou pela invasão de pós, lamas, barulhos, máquinas e camiões de localidades próximas dos locais de exploração.
“As pedreiras têm uma série de associações negativas, mas têm que existir. Tem que haver pedra para fazer cimento, para fazer casas de banho, entradas de hotéis… é muito bonito chegarmos a um átrio grande e vermos um chão, lindo, feito em pedra, mas esse chão não nasceu ali, veio de uma pedreira”, sublinha o presidente da Junta de Freguesia de Serro Ventoso, onde estão localizadas várias explorações da região.
Numa só voz, Carlos Cordeiro e Jorge Vala, presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, sublinham que o sector mudou muito, nos últimos anos, e que está “muito mais sensibilizado para as questões ambientais”.
“Hoje, o sector tem um peso muito importante na estrutura de desenvolvimento económico do concelho. Emprega muita gente, paga acima da média nacional aos seus recursos
humanos, com exigências diferentes, porque para além de ser uma área de trabalho difícil, exige também conhecimentos técnicos, porque trabalha essencialmente com equipamentos eletrónicos, com o digital”, afirma Jorge Vala, elogiando a evolução que os empresários do sector mostraram nas últimas décadas. “Um empresário de exploração é também um empresário que gosta de ver o seu espaço bem tratado, visualmente, com um impacto positivo, sendo certo, que ninguém consegue tirar de lá o impacto de retirar os blocos de pedra”, diz.
Projetos como o Stone Art são, garantem ambos autarcas, prova desta mudança. Não só porque albergam projetos artísticos, como também porque abrem o espaço permanente ao público para mostrar aquilo que é, também, a vida de uma pedreira. Mas esta mudança vai muito além de uma galeria a céu aberto.
Célia Marques, vice-presidente executiva da Assimagra, explica ao REGIÃO DE LEIRIA que “o sector tem percorrido um caminho de renovação para colmatar os impactos ambientais e paisagísticos, já há bastante tempo e através de diferentes formas, através da adoção de práticas mais ecológicas, como a restauração de áreas intervencionadas e compensação dos territórios, a monitorização e implementação de medidas preventivas e corretivas para a minimização dos diferentes impactos ambientais induzidos pela atividade extrativa, a gestão de resíduos mais eficiente e a constante procura por alternativas de extração que causem menos danos ao ambiente e às comunidades. Projetos como o Stone Art pretendem dar a conhecer o sector através da arte, um sector de grande importância na região que prima pela sustentabilidade e a responsabilidade ambiental, aproximando-se por esta via das comunidades locais e de quem visita a região”, afirma.
Célia Marques sublinha ainda que “o sector está já a trabalhar no seu roteiro sectorial de descarbonização e a identificar as soluções mais adequadas à descarbonização dos seus processos e, assim, traçar as metas de descarbonização até 2050 para serem implementadas nas empresas. O kick-off desta iniciativa acontece já no próximo dia 27 de outubro, no hotel Montebelo em Alcobaça, num evento que vai reunir a indústria e os diferentes stakeholders a intervir neste processo”.
Ao mesmo tempo, estão ainda em curso “trabalhos de inventariação dos impactos nas várias fases da cadeia de valor da indústria extrativa e transformadora do sector da pedra natural para, desta forma, se disponibilizar às empresas ferramentas de cálculo da pegada carbónica, hídrica e ambiental e prepará-las para se posicionarem em projetos e mercados de alto valor acrescentado. Estas ferramentas são fundamentais para a melhoria continua dos processos e produtos das empresas, e competir com os seus principais concorrentes de outros sectores”. A vice-presidente da associação explica ainda que estão em “curso muitos projetos colaborativos, em diferentes regiões de Portugal, de planeamento e gestão
integrada de núcleos extrativos, quer da lavra, quer da recuperação paisagística e gestão de resíduos produzidos, para a utilização cada vez mais eficiente do recurso mineral e do território, em respeito com o ambiente, com as questões da segurança e com as comunidades”.
Focando no Codaçal, Célia Marques garante que, neste núcleo de pedreiras muito importante para o sector da rocha ornamental em Portugal, “as empresas estão a dar passos muito importantes no sentido de trabalharem de forma integrada para a melhor valorização e a gestão racional do recurso mineral, e a revitalização e regularização ambiental do espaço ocupado pelas pedreiras durante e após a exploração, garantindo a preservação do património natural existente no Parque Natural”.
Para o presidente da Junta, este caminho que está a ser percorrido pelo sector e iniciativas como a Stone Art ajudam a equilibrar a balança sobre a atividade.
“Quem beneficia mais com o Stone Art são os próprios empresários das pedreiras porque muda a imagem deles. Nós pomos o nome da freguesia e do concelho no mapa, mas aquilo está a mudar a imagem do sector. Se um visitante traz num prato da ‘balança’ uma imagem péssima das pedreiras, depois de visitar a região fica com uma imagem positiva. Ou seja, a balança fica equilibrada”, afirma Carlos Cordeiro.
Hoje, o sector tem um peso muito importante no desenvolvimento económico do concelho. Emprega muita gente, paga acima da média nacional, com exigências diferentes, porque para além de ser uma área de trabalho dicil, exige também conhecimentos técnicos”.
In: REGIÃO DE LEIRIA