Conferência do Novo Banco debateu as dificuldades dos empresários da região de Santarém. A falta de recursos humanos para a economia local é um dos principais problemas.
Helena Peralta
Santarém foi a cidade escolhida para a realização do sexto debate inserido na iniciativa Portugal que Faz, levada a cabo pelo Novo Banco com o objetivo de auscultar os empresários nacionais relativamente aos desafios futuros e necessidades mais prementes para fazer face à pandemia. “Esta crise criou sequelas assimétricas nas várias regiões e nos vários setores. Procuramos auscultar os empresários para dar os passos mais adequados.
Fazendo um paralelo, é quase o que o Novo Banco teve de fazer há uns anos para resolver e realinhar os problemas que atravessou e que o transformaram num banco renascido”, refere António Ramalho, presidente executivo do Novo Banco, na sessão de abertura do evento.
Moderado por Joana Petiz, diretora da Dinheiro Vivo, esta sessão realizada ontem, dia 7, nas instalações da NERSANT – Associação Empresarial da Região de Santarém e transmitida online, contou ainda com a participação de Carlos Andrade, economista chefe do Novo Banco, Domingos Chambel, presidente da NERSANT, David Dias, vice-presidente da ACES – Associação Comercial, Empresarial e Serviços dos Concelhos de Santarém, Almeirim, Alpiarça, Benavente, Cartaxo e Chamusca, Nuno Carvalho, presidente da APIC -Associação Portuguesa dos Industriais de Curtumes, e Miguel Goulão, presidente da ASSIMAGRA -Associação Portuguesa de Mármores, Granitos e Ramos Afins.
A Carlos Andrade, que participou de forma digital, coube a missão de fazer um retrato económico da região, referindo que uma das principais características distintivas desta zona é ter um peso no VAB do setor primário claramente acima da média nacional – mais de 7% – o que é positivo, pois o momento que se vive favorece este setor. “Há também uma diversidade setorial importante, com um crescimento interessante no comércio e na indústria transformadora, com destaque para o agroindustrial “, referiu o economista.
Formação adaptada
“O primeiro grande problema da região é a falta de mão de obra qualificada, que é até um problema maior do que o acesso ao financiamento”, começa por dizer Domingos Chambel, quando questionado sobre os desafios que enfrenta a zona do Ribatejo. E acrescenta: “não podemos promover esta região para captar investimento externo com falta de mão-de-obra qualificada e só conseguiremos ganhar esta batalha com uma mudança de paradigma a nível nacional”.
Adianta que a economia privada da região deveria ter uma palavra a dizer nos cursos profissionais que deveriam ser adaptados às reais necessidades das empresas e que já fez uma proposta ao governo nesse sentido. David Dias, da ACES, por seu lado, entende que no que diz respeito à área financeira, o que preocupa as empresas do setor do comércio e turismo é a questão das moratórias, e a execução da «bazuca financeira», já que vão chegar fundos comunitários que têm que ser bem aplicados.
“A taxa de execução dos projetos do Portugal 2020 foi na ordem dos 34%, ou seja, ficou muito abaixo do potencial, e agora, na próxima fase, queremos participar para que esses investimentos aconteçam”, afirma o responsável. “A taxa de execução tem de subir. Mais 10% era muito bom”, afirma. Questionado sobre o facto de o Novo Banco já estar a preparar esta questão, António Ramalho refere que ainda é cedo para isso mas que uma coisa é certa – a desburocratização terá de acontecer.
Miguel Goulão, presidente da ASSIMAGRA, remete a sua preocupação para o incremento do endividamento das empresas, e a questão das moratórias é também preocupante nesse aspeto. “As moratórias existem e bem, mas tudo isto vai ter de ser cumprido: quer o pacto orçamental, quer o pagamento da dívida quer o fim das moratórias. E é preciso ter cuidado se tudo isto for feito ao mesmo tempo, pois assim não vamos conseguir aguentar”, alerta.
Para terminar o debate, Nuno Carvalho, presidente da APIC, afirma que as empresas do setor do curtume se estão a transformar no que diz respeito às questões ambientais, procurando novas soluções. “Não temos mais dificuldades no acesso ao crédito pelo facto de estarmos numa indústria considerada mais poluente”, afirma.