Em novembro de 2021, em Chão das Pias, foi inaugurado um novo miradouro a mais de 400 metros de altitude. O novo espaço tem a seu favor a arquitetura que se acotovela na serra, criando um camarote para todo o vale que agasalha a vila de Porto de Mós e tudo o resto que a vista alcançar. Para além de um novo atrativo e ponto de observação, aquela foi, curiosamente, a oportunidade para afinar a visão que os responsáveis locais têm da sua terra.
Carlos Cordeiro, presidente da Junta de Serro Ventoso, a freguesia que acomoda o miradouro, viu no surgimento de novos pontos de interesse, uma oportunidade para projetar o território. Com recurso à “prata da casa”, a autarquia que lidera montou um programa de visita, direcionado para grupos. Em cerca de quatro meses conta conseguir aproximadamente oito centenas de visitantes, num programa criado para tentar garantir um dia inteiro de visita turística na freguesia. E, assegura, a experiência tem evidenciado bons resultados.
Serro Ventoso, que é palco de várias explorações de inertes, apostou em dar-lhes uma veia artística. Nasceu o “Stone Art”, um festival que ocorre pela segunda vez, este mês. Vários artistas nacionais e estrangeiros dão corpo ao certame dedicado à pintura, escultura e ‘graffiti’ em pedreiras vizinhas do Codaçal.
A dureza da extração da pedra procurou aliar-se à arte pública que atrai muitos visitantes, curiosos em conferir o resultado desta combinação concretizada através da ação das autarquias locais e da associação do sector, a Assimagra, bem como do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. O resultado é uma galeria de arte que se instala ao ar livre, impressa na pedra que é o coração da serra que a atividade das pedreiras destapa. “O interesse com a Stone Art é imenso, sobretudo ao fim de semana”, conta o autarca.
Carlos Cordeiro percebeu que existia uma oportunidade para a sua freguesia e decidiu agarrá-la. É que a prática de passeios direcionados à população sénior por parte das juntas de freguesia tem-se vindo a generalizar e estas são visitas realizadas, por vezes, sem programas estruturados. Em abril, a Junta decidiu criar o “Programa Sénior + Um Dia”, destinado a grupos. “Já tivemos [a visita de grupos de] duas freguesias e vamos ter outra em setembro”, revela. Se tudo correr como previsto, serão cerca de 800 os visitantes esperados até ao final do verão.
Com a convicção de que Serro Ventoso consegue assegurar um dia inteiro de atividade, a Junta montou um roteiro que tem sido seguido pelos grupos que visitam a freguesia. Usualmente, a jornada arranca nos telhados de água – infraestrutura que recolhe a água da chuva para posterior utilização -, seguindo-se o miradouro de Chão de Pias e a experiência de visitar um anfiteatro natural: a Fórnea. O périplo conta ainda com uma ida à mina da Bezerra. Aquele é o local, resquício de tempos de exploração de carvão, na primeira metade do século passado, numa atividade que contou mesmo com uma linha de caminho-de-ferro que, na sua extensão máxima, ia desde a mina até Martingança, onde comunicava com a Linha do Oeste.
Tudo isto é “concentrado na freguesia” e há ainda “um bom almoço de galo”, adianta Carlos Cordeiro. Serro Ventoso tem apostado em projetar-se como “capital do galo” e, em novembro, realiza um festival destinado às inúmeras formas de confecionar o galináceo. E estes grupos, que “subscrevem” o programa de visita, fazem uma refeição que, neste jogo do galo, tem o Cassac como um dos vencedores. O Centro de Apoio Social Serra D’Aire e Candeeiros é uma instituição particular de solidariedade social, sem fins lucrativos, e confeciona a refeição, encontrando aqui uma forma de financiamento suplementar.
A Junta, explica Carlos Cordeiro, não cobra qualquer valor, fornece a organização, assegura a colaboração de guias voluntários, produz um pequeno vídeo sobre a visita e ainda acrescenta a possibilidade de os visitantes saborearem um pouco de licor. “Considero que fica baratíssimo, atendendo à oportunidade de promover o nosso território”, explica.
O presidente da Junta estima que a projeção da freguesia, aliada a algum incremento do consumo local, tem igualmente efeitos positivos na economia local. Até ao momento, o projeto “está a correr bem” e a ideia é continuar, assegura o autarca, que, ainda assim, adianta ter o objetivo de evitar grandes agrupamentos: “não queremos aglomerações elevadas: se tivermos uma visita por mês já é bom”. O impacto dos grandes grupos deve ser bem ponderado pois “é tudo feito com a prata da casa”. A título de exemplo, “os guias são voluntários. São guias cá da terra”.
Este é um projeto para continuar, mas não queremos aglomerações elevadas: se tivermos uma visita por mês já é bom. Esta atividade também é trabalhosa e é tudo feito com a prata da casa”
In: Região de Leiria