Assimagra

Recursos Minerais de Portugal

FALTA DE NAVIOS PARA EXPORTAR PEDRA

A indústria extrativa e transformadora de pedra, que assegura perto de 16 mil empregos diretos no país, enfrenta problemas logísticos que atrasam e tornam mais cara a expedição por via marítima das mercadorias para a Ásia.

António Larguesa

No meio de uma pandemia que travou a fundo a procura no mercado doméstico e que fechou também quase por completo alguns dos principais destinos internacionais mais próximos, como Espanha, França ou Itália, a indústria extrativa e de transformação de pedra está a enfrentar “dificuldades adicionais” a nível logístico, com bloqueios à exportação por via marítima e para mercados mais distantes, sobretudo na Ásia.

Ao Negócios, o vice-presidente da associação dos recursos minerais (Assimagra), entre os quais estão as rochas para aplicação industrial ou ornamental, aponta a escassez de equipamentos e de contentores disponíveis para despachar a mercadoria, o que está a “aumentar significativamente os preços de frete e a tornar ainda mais complicada a competitividade de um país que já é periférico” no contexto europeu.

Além disso, Miguel Goulão descreve que há cada vez mais navios a suprimirem as paragens nos portos portugueses por não terem material para descarregar – e desta forma também não levam os produtos – e mesmo em circulação nas águas internacionais. É que os armadores estão a aproveitar este período de travagem para reestruturarem as embarcações, que este ano, por imposições ambientais, têm de passar a utilizar combustíveis menos poluentes.

Estas limitações afetam em particular as operações para a China, um dos principais mercados para os mármores, calcários e granitos portugueses. O gigante asiático foi o primeiro a fechar as empresas devido à covid-19, com os bancos a adiarem as transações e a dificultarem os recebimentos. Um recuo evidente nas exportações do segmento, que quebraram 10% logo em janeiro após crescerem 12% no ano passado. Porém, a China é agora “a primeira a recuperar e já se começam a verificar encomendas e a notar uma dinâmica diferente na economia”.

Sem obras nem euros

Composta por 2.500 empresas, que asseguram diretamente 16 mil postos de trabalho de norte a sul, a indústria da pedra registou um volume de negócios de 1.200 milhões de euros em 2019, dos quais 430 milhões provenientes da exportação, segundo os dados fornecidos pela Assimagra. Os clientes finais deste produto são as construtoras, que executam a obras, e a maior ameaça neste momento é o adiamento dos investimentos devido ao novo coronavírus.

“Quem planeava construir um hotel, por exemplo, vai pensar dez vezes se o vai ou não fazer. Somos um setor dependente destas decisões, que vão adiar a retoma. Os projetos que já tinham em carteira vão ser concluídos; o grande problema está a médio prazo”, frisa Miguel Goulão, antecipando que, como estas empresas trabalham “a dois ou três anos de distância”, o impacto da atual crise vai ter reflexos prolongados até ao final de 2021 e em 2022.

O porta-voz da Assimagra considera que as medidas de apoio apresentadas até agora pelo Governo são “claramente insuficientes”, lamentando que as linhas de crédito anunciadas ainda não tenham libertado um único euro às empresas deste setor, que até foi dos primeiros a ser contemplado, a par das indústrias do têxtil, calçado e madeira. “Não há nenhuma operação que tenha já feito chegar dinheiro às empresas. As que tiveram aprovação [da banca] ainda nem receberam os contratos para vincular a operação”, resume o gestor.


Solidariedade chinesa paga taxa e imposto

A Associação de Pedra Natural de Fujian, no Sudeste da China, ofereceu 50 mil máscaras de proteção e 130 termómetros à congénere portuguesa, numa ação de solidariedade no combate ao novo coronavírus. Miguel Goulão conta que estes materiais, a distribuir pelas empresas e pelos serviços de saúde, tiveram “um percurso atribulado” até Lisboa e “vieram às prestações” – umas diretamente de Xangai e as outras via Japão, França e Espanha. Mas a “grande surpresa” para a Assimagra, lamenta o responsável, foi que “para descarregar este donativo [tiveram] de pagar 23% de IVA, mais 6% de taxas de desalfandegamento”.

In: Jornal de Negócios